Tatiana Belinky (1919-2013) foi uma escritora de literatura infanto-juvenil, foi roteirista e tradutora de grandes obras russas e a responsável pela primeira adaptação para a televisão de O Sítio do Pica-pau Amarelo.
(Clique nos títulos o na capa do livro para abrir o link da leitura)
Quintal da Cultura - A Cesta da Dona
Maricota
"O caso do bolinho de Tatiana Belinky"
O
Menino e o Livro
Estava eu lá na Rua Barão de Itapetininga, no centro da cidade, mexendo nas
estantes da livraria brasiliense. (Eu não consigo passar por uma livraria sem
entrar para fuçar no meio dos livros. Desde que eu tinha quatro anos de idade,
livro para mim é a coisa mais gostosa do mundo. A gente nunca sabe as surpresas
que vai encontrar entre duas capas. Pode ser de boniteza ou de tristeza, ou de
poesia, ou de risada ou de susto, sei lá. Um livro é sempre uma aventura, vale
a pena tentar! )
Pois bem, estava eu ali, muito entretida, examinando os livros, quando de
repente senti que alguém puxava pela manga. Olhei para baixo e vi um menino –
um garotinho de uns oito ou nove anos, magrelo sujinho, de roupa esfarrapada e
pé no chão.
Uma dessas crianças que andam largadas pelas ruas da cidade, pedindo esmola. Ou
melhor dos casos, vendendo agulhas ou coisas desse tipo. Eu já ia abrindo a
bolsa para pegar uns trocados, quando o menino disse:
-Escuta, dona. ( Naquele tempo , ninguém chamava a gente de tia; tia era só a
irmã do pai ou da mãe ).
- O que é? – falei. – O que você quer?
-Eu... dona, me compra um livro? –disse ele baixinho, meio com medo. Dizer que
fiquei surpresa é pouco. O jeito do menino era de quem precisava de comida,
roupa, isso sim, Duvidei do que ouvira:
- Você, não prefere algum dinheiro? – perguntei.
- Não dona- disse o garoto, olhando- me bem nos olhos. – Eu quero um livro, me
compra um livro?
-Meu coração começou a bater mais forte.
- Escolha o livro que você quer- falei.
As pessoas na livraria começaram a observar a cena, incrédulas e curiosas. O
menino já estava junto à prateleira, procurando e examinando, ora um livro, ora
outro todo excitado. Um vendedor se aproximou meio desconfiado, com cara de
querer intervir.
-Deixe o menino escolher um livro- falei. – Eu pago.
As pessoas em volta me olhavam admiradas. Onde já se viu alguém comprar um
livro para um molequinho maltrapilho daqueles?
Pois
vou lhes contar: foi exatamente o que se viu naquela tarde, naquela livraria. O
menino acabou se decidindo naquela tarde, naquela livraria. O menino acabou se
decidindo por um livro de aventuras, não me lembro qual. Mas lembro bem da
minha emoção , quando entreguei o volume e vi seus olhinhos brilhando ao me
dizer um rápido “ obrigado,dona” , antes de sair em disparada, abraçando o
livro apertado ao peito .
Quanto
aos meus próprios olhos, estes se embaraçaram estranhamente, quando pensei cá
comigo:
Tanta
criança rica não sabe o que perde, não lendo – e este menino pobre ( que
certamente não era um pobre menino ) sabe o valor que tem essa maravilha que se
chama livro !
Isto
aconteceu há vários anos. Bem que eu gostaria de saber o que foi feito daquele
menino...
(BELINKY, tatiana. In : Folhinha. S.P: Folha de São Paulo , s/d. )
Os 5ºs anos do período da tarde, montaram um cantinho todo especial para este momento
PAPP Debora C.
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